Marcha do Axé reúne manisfestantes LGBT e de religiões afro contra preconceito religioso
23 de fevereiro de 2014 10:22 / Deixe um comentário
Praticantes e adeptos das religiões afro-brasileiras participaram de uma manifestação contra a intolerância e o preconceito religioso no Parque Ibirapuera, na capital paulista. Também uniram-se à chamada Marcha do Axé, pessoas ligadas aos grupos de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros (GLBTT) e organizações não governamental (ONG) contra o racismo. A Polícia Militar estima que cerca de 2 mil pessoas participaram da marcha.
Segundo um dos organizadores da marcha, Jorge Scritori, a manifestação é um movimento de conscientização com relação às dificuldades que a comunidade dos praticantes do umbanda e candomblé sofrem com relação à intolerância, ao preconceito e à discriminação. “Queremos trazer uma visão em relação a tudo o que vem acontecendo em todas as comunidades. Hoje se um dos meus filhos manifesta o teor religioso que temos em casa, tem dificuldades. Se há um terreiro pequeno dentro de uma comunidade ou um bairro, há vidros quebrados, entre outras coisas”.
Scritori destacou que, muitas vezes, esse tipo de agressão é impulsionado até por pessoas de outras religiões. Devido a esse comportamento, ele disse que o objetivo é levantar a discussão sobre o preconceito e sobre uma consciência maior do que é religião. “Queremos colocar isso de forma clara para a sociedade. Queremos a inclusão e aceitação do nosso processo. Não exigimos a mesma crença, mas é dever de todos respeitar”, afirmou
Aos cem anos, umbanda ainda sofre preconceito!
17 de fevereiro de 2014 10:36 / Deixe um comentário
O problema já foi a perseguição da extinta Delegacia de Costumes, no século passado. Atualmente, aos cem anos de sua fundação, comemorada ontem, as acusações de charlatanismo e curandeirismo fazem parte do passado da umbanda. Uma história de obstáculos e desconfianças para se consolidar como a primeira religião criada no Brasil. Porém, se a polícia já não incomoda mais, a intolerância de outras crenças continua presente na vida de pais, mães e filhos-de-santo no Brasil.
Nem mesmo a proteção das entidades e orixás parece ter sido capaz de conter os ataques a centros de umbanda. Os casos se acumularam nos últimos anos na mesma velocidade com que a demonização das religiões de matrizes africanas avançou nos veículos de comunicação controlados por evangélicos radicais.
Há quem acredite que a repetição dos casos de intolerância afasta os fiéis e impede a afirmação da crença. De acordo com o censo de 2000 do IBGE, 432 mil brasileiros se declaram umbandistas. Em 1991, eram 542 mil. “Hoje, existem pessoas se escondendo de sua fé por causa da intolerância religiosa”, lamenta pai Guimarães de Ogum, presidente da Associação Brasileira dos Templos de Umbanda e Candomblé (Abratu) e coordenador-geral do Movimento Chega! – organização contra a perseguição religiosa dos terreiros de umbanda.
Segundo o sociólogo Flávio Pierucci, livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), o discurso agressivo contra a umbanda e o candomblé surte efeito. “O número de adeptos de religiões afro-brasileiras está caindo vertiginosamente, o que significa que a contrapropaganda está funcionando. Essa demonização dos orixás funciona, porque as pessoas têm medo. Com pastores sistematicamente na televisão ou no rádio dizendo que aquilo é o demônio, realmente as pessoas começam a achar que existem religiões demoníacas no Brasil”, afirma.
A outra face da intolerância se revela na vergonha dos perseguidos. “Não temos dados consolidados do número de ataques nos últimos anos porque muitas pessoas acabam se escondendo com medo de novas retaliações”, diz pai Guimarães. “Existem casos de templos que são invadidos por evangélicos e quando ele (o umbandista) vai à delegacia, acaba sendo alvo de gozações.”
Alguns ataques, porém, acabaram na Justiça. Uma decisão do Tribunal Regional Federal de São Paulo concedeu ao Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo (Souesp) o direito de resposta por ofensa e difamação de um programa (Sessão de Descarrego) da Rede Record de Televisão. O direito de resposta foi proposto em Ação Civil Pública interposta pelo Ministério Público Federal em novembro de 2004. A resposta deveria ser veiculada pela emissora durante uma semana, por uma hora, em horário nobre. “Não temos problemas com os evangélicos. Nosso problema se chama Edir Macedo (bispo e fundador da Igreja Universal)”, reclama Antônio Basílio Filho, diretor jurídico e ex-presidente do Souesp.
Em sua sentença, a juíza federal Marisa Cláudia Gonçalves Cucio, da 5ª Vara Federal Cível de São Paulo, escreve: “entendo que é possível a identificação dos ataques à religião com o intuito de menosprezar quem as pratica, referidos como bruxos, feiticeiros, pais de encosto.”
A emissora recorreu e o caso aguarda uma definição do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Procurada pela reportagem, a Rede Record não se manifestou. “Eles induzem a sociedade a se voltar contra, ou pelo menos ter medo, das casas de caridade de umbanda”, diz Basílio.
Para Pierucci, há um limite jurídico para essas iniciativas. “Esse movimento todo que teve até a participação do Ministério Público de responsabilizar a Rede Record por estar veiculando que os orixás são demônios pecou por querer que o Estado resolvesse questões teológicas. Os juristas brasileiros têm aquele raciocínio lógico-formal, pensam: ‘não é da nossa competência dizer ao Edir Macedo que ele está ofendendo um orixá chamando-o de demônio, isso é um discurso religioso, e o que o Estado tem a dizer sobre um discurso religioso?’”
Para os seguidores da religião, a primeira manifestação da umbanda sem vínculos com o kardecismo ou com o candomblé ocorreu em São Gonçalo, no Rio, em 15 de novembro de 1908. Nesse dia, na Tenda Nossa Senhora da Piedade, o médium Zélio Fernandino de Moraes, então com 17 anos, recebeu o Caboclo Sete Encruzilhadas. Estava fundada a religião e o primeiro terreiro de umbanda, oficialmente reconhecidos dali em diante.
Hoje, terreiros se espalham por todo o País, além de Portugal, Argentina e Inglaterra. Em São Paulo, são dezenas de templos, congregados pela Souesp.
Na avaliação de Pierucci, as religiões afro-brasileiras não estão sabendo reagir aos ataques, especialmente por carecer de foros de discussão. “O que estamos vendo é que essas religiões são muito frágeis, não têm organização nem muita unidade. De repente eles recebem um bombardeio de uma igreja que é gigantesca, que é a Igreja Universal.” Em um contexto de acirrada concorrência por clientela, diz o sociólogo, a diversidade religiosa não tem crescido com a liberdade religiosa. “Essa liberdade religiosa deu origem a uma concorrência livre no sentido de que o Estado não regula mais o campo religioso, ele deixa as feras lutarem entre si. Ele se isenta, se ausenta.”
Simpatias de Amor
13 de fevereiro de 2014 10:28 / 2 comentários em Simpatias de Amor
Ótimas simpatias para prender a pessoa amada.
O preconceito de ontem e de hoje.
11 de fevereiro de 2014 10:27 / Deixe um comentário
O caminho que a nossa religião está tomando na sociedade me preocupa. É difícil falar sobre esse tema sem lembrar o que sofremos no passado nas senzalas, na ditadura, e hoje com os evangélicos. Mas o pior de tudo é o que passamos com o nosso próprio povo-do-santo que vive em um universo de ostentação que não conseguimos mais suportar.
Na inquisição os médiuns eram tratados como bruxos e não tinham lugar no céu. Segundo a igreja, tinham que ser queimados antes para serem purificados.
O modo como as pessoas nos enxergam hoje não é muito diferente, porém passamos por várias provas e seguimos adiante para manter nossa religião e cultura mesmo às escondidas. Apesar de proibidos de praticar nossa fé, jamais perdemos a confiança.
Há quanto tempo existe a Umbanda no Brasil? Ao chegarmos a esta terra, nos primeiros navios negreiros, encontramos os índios – donos legítimos de Pindorama (Brasil) – e junto com eles sofremos repressão e fomos obrigados a nos manter calados e submissos ao rei e a Igreja.
Na senzala não podíamos professar nossa fé publicamente e tínhamos que nos esconder atrás da imagem de santos católicos e promover o catolicismo. Assim foi criado o sincretismo religioso no Brasil. Aprendemos a associar os santos da Igreja Católica aos n ‘kise (orixás). Por exemplo: n ‘kise Ogun virou Santo Antônio; n ‘kise Oxum virou Nossa Senhora Aparecida; Omulu virou São Lázaro e Oyá virou Santa Bárbara.
Sofremos com os senhores de engenho, com os coronéis e seus capatazes. Fomos humilhados vendo nossos irmãos negros escravos chicoteados por não praticar o catolicismo. Pergunto: Quem nos apoiou?
Apesar de toda essa injustiça, nunca perdemos a fé e a confiança. Aprendemos a cultuar os nossos n’kises adaptando-os à nova terra. O culto aos n’kises passou a ser coletivo em um só espaço, e não mais em aldeias como na África. Aprendemos a cultuar e louvar Aluvaiã (Exu), Lembaranganga (Oxalá) em um espaço coletivo, e assim nasceu a Umbanda no Brasil, e Salvador se tornou o berço da nossa religião onde cresceram as nações Alaketu, Angola, Jêje, Efon, no Novo Mundo – a nossa Terra Prometida.
O tempo passou. Após sermos alforriados pela Princesa Izabel, tivemos que lutar outra vez para ocupar lugar na sociedade. Na ditadura sofremos ataques às nossas casas de culto e fomos proibidos de praticar a religião publicamente. Vimos nossos irmãos sendo presos e humilhados, chamados de demônios, acusados de praticar rituais de bruxarias.
Hoje existem os evangélicos que afirmam que fazemos o mal e prejudicamos a vida das pessoas. Outra vez somos desrespeitados com palavras pejorativas e atacados em nossas casas de culto. Não podemos colocar o nome de nossa casa em placas na rua porque dizem que recebemos o diabo e que não somos religião. Além disso, nos atacaram na mídia publicamente dizendo que somos pais e mães de encosto. E mais: até agora a Justiça não deu parecer final sobre o nosso direito de resposta.
Somos ridicularizados por usar nossas roupas e fios de conta na rua. Já se sabem que em breve não poderemos mais levar presentes para Yemanjá à praia porque somos acusados de poluir e degradar o mar e a Natureza com nossas oferendas etc. Quando fazemos despachos sujamos a cidade e o meio ambiente. Não deveria ser assim, pois dentro de nossas casas cultivamos ervas e plantas porque amamos a Natureza! Somos a única religião que vive a Natureza e a respeita.
Somos acusados de fazer maldade aos animais nos rituais ou festas religiosas, com os quais promovemos grandes banquetes. Uma inverdade!
Ai eu pergunto: E os animais vendidos no comércio, verdadeiros cemitérios a céu aberto que expõem carcaças a preços módicos? La as carnes são colocadas em vitrines com embalagens bonitas e prontas para o consumo. Dessa forma todo mundo acha que os animais não sofreram nada. Nós é que somos os malvados sendo que em rituais de umbanda não se é usado animais e nem qualquer tipo de sacrifício.
O Brasil é um país de livre culto! Quais políticas estão sendo tomadas em nosso favor? E nós, como estamos nos comportando? Melhoramos ou pioramos?
Outro dia em um culto de Umbanda percebi quanto precisamos nos unir. Precisamos ajudar um ao outro e não ter medo instruir seu irmão. Não ter vergonha de dar ou pedir ajuda. Essa é uma ação humilde. Cada um tem o dever de fazer a coisa certa para que os iniciados aprendam a amar seu n ‘kise. É preciso acabar com a ostentação, comentários maldosos e a falta de respeito de um para o outro.
Essa experiência me deixou triste e chocada. Será que não bastam outras religiões nos atacando e condenando? Será que precisamos destilar o preconceito entre nós mesmos?
Batemos no peito e dizemos que não temos preconceito e que não somos intolerantes! A quem a carapuça não serviu que atire a primeira pedra!
Para adquirir respeito temos que rever nossa postura, pois se continuarmos nesse caminho, em 20 ou 30 anos não haverá mais Umbanda. Não haverá mais abiã (noviço) nem feitura de santo, nem saída do yawo (filho-de-santo), nem festa de louvação. Temos que começar agora. Temos de ver o que está acontecendo à nossa frente e ao nosso redor.
Quero chamar a atenção do leitor (do santo) para este tema. Não pode haver preconceito entre nós. Temos que parar de jogar um contra o outro. Temos que nos unir para defender nossa religião.
Pensem bem! O que estamos fazendo com a nossa religião, com nossos n ‘kises? Sim, os n ‘kisesl Eles cobrarão de cada um de nós a coragem de assumir uma postura de sacerdote, ou vocês acham que eles não estão vendo tudo isto? Temos que tomar uma atitude urgente. Vamos nos unir para vencer o preconceito. Temos que parar de brigar entre nós para poder resgatar nossa religião que está enfraquecendo e se descaracterizando.
Nossos antepassados lutaram para nos deixar uma religião tão bonita, cheia de mistérios e de encantos. Portanto não podemos permitir que ela se acabe por causa de pessoas que só querem tirar proveito dela fazendo com que nossos lideres religiosos honestos fiquem em situação de falsos sacerdotes.
Chega de pai e mãe-de-santo se agredindo. Chega de baixaria que não condiz com a conduta religiosa.
Desculpem, mas não foi isso que aprendemos no quarto- de-santol Cadê o juramento feito na iniciação quando saimos do grau de abiã para yawô? Após sete anos recebemos o deká (oye) para assumirmos o cargo de sacerdote ao qual prometemos ser verdadeiros exemplos. Cadê o exemplo?
O que estamos fazendo pela Umbanda em troca de tudo que ela nos dá? Não basta dizer aos quatro cantos que somos descriminados e sofremos preconceito religioso, que somos tolhidos em nossa liberdade de culto ouvindo. Que exemplo nós estamos dando?
Hoje se usa o nome de religiões de matriz africanas e não mais Umbanda por quê?
E aqueles que vão à África comprar certificado só para ter o titulo de autoridade superior da Umbanda. Essas pessoas estão preparadas para representar a Umbanda?
Hoje vemos pessoas ditas sacerdotes cujo foco está no dinheiro que recebem dos adeptos, dos iyawó, sem nem mesmo completarem seus ensinamentos. Tem gente que nem passa pelos sete anos de feitura e já se define babalorixá (pai-de-santo) ou yalorixá (mãe-de-santo). Não respeitam a hierarquia, não têm conduta digna da religião, jogam búzios e iniciam pessoas sem nenhum conhecimento religioso. Depois quem leva a má fama é o pai ou mãe-de-santo, pessoa séria que passou duramente por todos os ritos religiosos e aprendeu a cuidar e zelar de nossa religião.
Vamos pensar e refletir sobre o futuro da Umbanda. Será que teremos que reaprender a Umbanda? Qual conduta a tornar? Será que nos falta um código de ética? E quanto às futuras gerações? E os jovens? O que podem esperar da nossa Umbanda? O que estamos fazendo por eles?
A Umbanda sobreviveu a séculos de violências, perseguições, preconceitos, discriminação e difamação. Sobreviveu pela persistência e fé de nossos antepassados e pelo auxilio de nossos n’kises.
Não percamos de vista nossa origem, nossa essência. Portanto, antes de reclamar da intolerância religiosa, sejamos tolerantes entre nós mesmos. Antes de dizer que sofremos preconceito, combatamos o preconceito entre nós. Só assim nos manteremos fortes o suficiente para um dia poder viver em harmonia e perpetuar a verdadeira Umbanda.
Orixás e suas caracteristicas
9 de fevereiro de 2014 10:34 / Deixe um comentário
Conheça mais sobre cada um dos orixás
LOGUN-EDÉ
7 de fevereiro de 2014 10:33 / Deixe um comentário
O príncipe dos orixás
É um orixá cultuado na região de Ijexá, na Nigéria. Segundo a mitologia, Logun é filho de outros dois orixás: Oxun Pondá e Odé lnlé (ou lmbualama). É considerado o príncipe dos orixás. Possui o conhecimento dos elementos da natureza, onde reinam seus pais, como florestas, matas, rios, cachoeiras, etc. Seu próprio domínio está situado nas margens de rios, córregos e cursos d’água em geral, desde que tenham vegetação, ou seja,o encontro dos dois reinados.
Esse orixá vem sendo erroneamente associado à dualidade e sexual. Muitos estudiosos no assunto afirmam que Logun vive seis meses como homem, igual ao seu pai Odé, e, nos outros seis meses, transforma-se numa mulher, como sua mãe Oxun.
Isso, na minha opinião, é um absurdo! Logun é um orixá soberano, que não passa por transformações sexuais. Isso acontece com frequência aqui na Terra com os seres humanos. Os orixás estão anos-luz adiante dessas questões.
Na verdade, esse orixá tem livre acesso aos dois reinados, adquirindo o conhecimento de ambos. Consegue adaptar-se, com facilidade, aos mais diversos ambientes, agindo e comportando-se de diferentes formas, dependendo da situação.
Ele herdou também muitas das características de seus pais, como a habilidade de caçar e conseguir fortuna, o encanto e a beleza, bem como um grande conhecimento de feitiçaria, como sua mãe. Além desses atributos ele é também responsável pela fertilização das terras, através da irrigação, contribuindo, assim, com a agricultura.
Esse orixá possui muita riqueza e sabedoria, não admitindo a imperfeição em suas oferendas e rituais. Tem aparência doce e calma, mas, quando contrariado, e torna-se muito enfurecido.
Outra característica de Logun é a de importar-se com o sofrimento dos outros, distribuindo riquezas e caças para os que não têm.
Suas ferramentas são o abebe e o ofá. Seu símbolo é uma balança, representando o equilíbrio.
LENDAS DE LOGUN EDÉ
No inicio dos tempos cada orixá dominava um elemento da natureza, não permitindo que nada, nem ninguém, o invadisse. Guardavam sua sabedoria como a um tesouro.
É nesse contexto que vivia a mãe das águas doces, Oxun, e o grande caçador Odé. Esses dois orixás constantemente discutiam sobre os limites de seus respectivos reinados, que eram muito próximos. Odé ficava extremamente irritado quando o volume das águas aumentava e transbordava de seus recipientes naturais, fazendo alagar toda a floresta. Oxun argumentava, junto a ele, que sua água era necessária à irrigação e fertilização da terra, missão que recebera de Olorun. Odé não lhe dava ouvidos, dizendo que sua caça iria desaparecer com a inundação.
Olorun resolveu intervir nessa guerra, separando bruscamente esses reinados, para tentar apaziguá-Ios.
A floresta de Odé logo começou a sentir os efeitos da ausência das águas. A vegetação, que era exuberante, começou a secar, pois a terra não era mais fértil. Os animais não conseguiam encontrar comida e faltava água para beber. A mata estava morrendo e as caças tornavam-se cada vez mais raras. Odé não se desesperou, achando que poderia encontrar alimento em outro lugar. Oxun, por sua vez, sentia-se muito só, sem a companhia das plantas e dos animais da floresta, mas também não se abalava, pois ainda podia contar com a companhia de seus filhos peixes para confortá-la. Odé andou pelas matas e florestas da Terra, mas não conseguia encontrar caça em lugar algum. Em todos os lugares encontrava o mesmo cenário desolador. A floresta estava morrendo e ele não podia fazer nada. Desesperado, foi até Olorun pedir ajuda para salvar seu reinado, que estava definhando. O maior sábio de todos explicou-lhe que a falta d’água estava matando a floresta, mas não poderia ajudá-lo, pois o que fez foi necessário para acabar com a guerra. A única salvação era a reconciliação.
Odé, então, colocou seu orgulho de lado e foi procurar Oxun, propondo a ela uma trégua. Como era de costume, ela não aceitou a proposta na primeira tentativa. Oxun queria que Odé se desculpasse, reconhecendo suas qualidades. Ele, então, compreendeu que seus reinos não poderiam sobreviver separados, unindo-se novamente, com a bênção de Olorun.
Dessa união nasceu um novo orixá, um orixá príncipe, Logun Edé, que iria consolidar esse “casamento”, bem como abrandar os ímpetos de seus pais. Logun sempre ficou entre os dois, fixando-se nas margens das águas, onde havia uma vegetação abundante. Sua intervenção era importante para evitar as cheias, bem como a estiagem prolongada. Ele procurava manter o equilíbrio da natureza, agindo sempre da melhor maneira para estabelecer a paz e a fertilidade.
Conta outra lenda que as terras e as águas estavam no mesmo nível, não havendo limites definidos.
Logun, que transitava* livremente por esses dois domínios, sempre tropeçava quando passava de um reinado para o outro. Esses acidentes deixavam Logun muito irritado.
Um dia, após ter ficado seis meses vivendo na água, tentou fazer a transição para o reinado de seu pai, mas não conseguiu, pois a terra estava muito escorregadia. Voltou, então, para o fundo do rio, onde começou a cavar freneticamente, com a intenção de suavizar a passagem da água para a terra.
Com essa escavação, machucou suas mãos, pés e cabeça, mas conseguiu fazer uma passagem, que tornou mais fácil sua transição. Logun criou, assim, as margens dos rios e córregos, onde passou a dominar. Por esse motivo, suas oferendas são bem aceitas nesse local.
CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE LOGUN-EDÉ
São pessoas de extremo charme e carisma, possuindo muitos amigos e admiradores. Sentem imensa compaixão pelas pessoas que sofrem, sempre tentando ajudá-las. A sinceridade é a sua maior virtude, porém irrita-se com muita facilidade. Basta ser contrariado e sua fúria aparece, muitas vezes perdendo o controle de suas ações, custando muito a acalmar-se. São perfeccionistas, querendo tudo ao seu modo. Não admitem erros por parte de outras pessoas. Agem por impulso, aproveitando ao máximo tudo o que a vida lhe oferece. São muito curiosos e espertos. Geralmente, quando crianças, adoram desmontar seus brinquedos para ver como são feitos. Na fase adulta, têm o dom de captar o intimo das pessoas. Os filhos de Logun têm muito interesse em aprender e viver novas experiências. Assim como o orixá, adaptam-se a todo tipo de ambiente e sabem como agir em cada situação. Têm uma característica curiosa, que é a de estar sempre machucando as extremidades das mãos, pés e cabeça.
ASPECTOS GERAIS
Dias da semana: quinta-feira e sábado.
Cores: azul turquesa e amarelo ouro.
Jêje: nesta nação denomina-se AGUE-ETALA-AZlRI.
Domínios: margens dos rios, várzeas, cachoeiras, cursos de água, florestas e matas.
Oráculo de Ifá: responde nos Odus OBÉ OXE, OBARÁ, OWONRIN.
Oferendas: papa de milho com coco, milho cozido com feijão fradinho, ipeté, papa de coco, etc.
O padrinho protetor
5 de fevereiro de 2014 00:59 / Deixe um comentário
É noite alta quando Maria chega à favela onde mora. Alguns cães sarnentos estão vagando pelas vielas. Ela está chateada. A patroa resolveu dar uma festa e logicamente pediu-lhe que trabalhasse muito além de horário normal. Justo hoje que ela queria ir ao terreiro.
Tivera um sonho estranho na véspera: sonhara que caminhava, ou melhor, corria desesperada por um caminho Iúgubre. Sentia-se perseguida, mas não via por quem subitamente caía com uma sensação de morte iminente; mas nesta parte do sonho aparecia um homem de terno branco e chapéu que lhe sorria. Levantava-a do chão e lhe dizia: “Vou ser o padrinho”.
Então ela reconhecia Sr. Zé Pelintra que sumia gargalhando.
Um sonho estranho que perturbara o dia inteiro.E o pior é que à essa hora o terreiro já não estava mais tocando e a próxima gira só seria daqui quinze dias. Tão absorta a moça estava que não notou os dois rapazes que se drogavam na viela. Quando deu por si já estava perto deles.
Voltar poderia ser encarado como um ato hostil, então resolveu continuar. Ao passar por eles sentiu um calafrio.
Os rapazes não a impediram de passar, porém a seguiram com ares pouco amistosos.
Ela pensa em correr, mas é tarde para isso. Eles a atacam e a subjugam com uma faca afiadíssima. A lâmina está em seu pescoço. Eles, alucinados, anunciam o estupro. Um deles já está preste a consumar o ato.
A moça desespera-se, pois não consegue gritar. Aflição toma conta dela. Nada poderia fazer. Pensa em sua familia, no noivo, chora baixinho. Fecha os olhos para não ver a cara de seu algoz. subitamente ouve dois baques surdos. Algo parecendo com um golpe de capoeira. Percebe nitidamente que os rapazes estão apanhando.
Abre os olhos e não vê ninguém a não ser os dois sangrando e desacordados. Ela tenta correr desesperada, mas desmaia. Quando acorda está no Pronto Socorro, e já é dia.
O médico lhe informa que fora levada para lá quando amanhecia.
Fora achada desacordada na viela, ali perto dois corpos…
O noivo está aflito esperando para vê-Ia. Mas a surpresa maior ainda estava por vir. O médico informa que ela está grávida há pelo menos 3 semanas. Um choro emocionado invade o Pronto Socorro.
Assim que recebe alta, ela e o noivo vão ao terreiro agradecer ao Sr. Zé Pelintra.
Lá chegando, mestre Pelintra a abraça com amor e carinho. Antes que eia agradeça e conte à novidade, ele sorri e diz: “Em afilhado meu, ninguém põe a mão”.
E de fato, meses depois nascia um lindo garoto que foi batizado por Zé Pelintra.
Explicando o Ngombo.
4 de fevereiro de 2014 09:29 / 1 comentário em Explicando o Ngombo.
Muito me honra escrever sobre um tema que requer muita seriedade e pesquisas. O ngombo é mais conhecido na África do que no Brasil, pois o método que os sacerdotes utilizam aqui no Brasil é o jogo de búzios.
Quando se fala de ngombo, tomamos esta palavra no cesto de adivinhação Ngombo ya Cisuka, mas a palavra tem um sentido muito mais amplo. Ngombo é um termo genérico que se relaciona à arte e à prática divinatória, tanto quanto aos instrumentos que essa utiliza. A Divindade Suprema do ngombo é Nkukua-Lunga – o grande pensador, Deus da adivinhação e da sabedoria -, que recebeu de Nzambi Ndala Karitanga, seu pai-avô, o poder divinatório.
É Ele quem preside todas as consultas e orienta os Nganga-a-Ngombo, Tábi e Kabuma, principais sacerdotes de todo sistema religioso de Angola e Kongo.
Antes de qualquer adivinhação, o sacerdote faz o rito das pembas e do mukundu (sagrados pós), evocando primeiro os Makulu Ngombo (espiritos dos grandes adivinhadores) e em seguida evoca as Mahamba (divindades) ao mesmo tempo em que balança o musambu (chocalho duplo feito de cipós). Depois, o adivinho e o consulente fazem menção de juntar as mãos, batendo palmas e repetem enquanto o sacerdote pronuncia a uma evocação especifica.
Cada vez que o sacerdote sacode o cesto de adivinhação, pousa-o sobre a esteira em que está sentado, fazendo, então, a leitura dos tupelês (amuletos) que apareceram à superfície do cesto, junto a pemba e ao mukundu ali fixados.
O ngombo é o termo genérico que os chokwe dão às peças, métodos e ao espírito da adivinhação. Designa também pequenas pembas de kelê e tombê (palmeiras), símbolos importantes na iniciação do adivinhador e no cesto de adivinhação.
Tipos de ngombo
Ngombo ya kakuka (adivinhação de kakuka) é a primitiva forma de adivinhação, a mais antiga, segundo os adivinhadores tutchokwe. Consiste na fricção de dois pedaços de madeira, cortados do mesmo tronco, do arbusto chamado mutete wa um tchana. Ngombo ya Kalombo é uma das formas de adivinhação antigas, que hoje caiu em desuso, feito com o chifre de antilope – cavalo.
Ngombo Katwa – a cabaça.
Ngombo Kapyekete – pequenos bastões entrecruzados formando losangos.
Outras técnicas usadas pelos adivinhos cokwe como ngombo
Ngombo ya Mwishi – a mão do pilão ou o cabo do machado ou da enxada.
Ngombo ya Kalombo – o chifre de antílope – cavalo.
Ngombo ya Mbaci – a carapaça de tartaruga.
Ngombo ya Cisalo – um tipo de haste de madeira.
Ngombo ya Mbinga – o pêndulo de chifre de antílope.
Ngombo ya Kakuka – a estatueta.
Ngombo ya Lusango – o chocalho.
Ngombo ya Maliya – a estatueta com espelho no ventre.
Ngombo ya Cisuka – o cesto divinatório.
A iniciação do adivinhador
O iniciado chama o seu mestre Tata (pai do ngombo) e leva-lhe um miwi (ponta de flecha) dizendo: “não quero ser charlatão, mas sim útil ao meu povo”. O mestre responde: ngombo yiame wa yipumba kububa nganga nyi afhu” – meu ngombo tem força; agarra feiticeiros e identifica espíritos. Olha só para o meu munenge (árvore de culto), olha a minha chihunda wa ngombo (pilha de restos de fogueiras onde arderam feitiços) e olha a minha yipumba (cestinha com pontas de setas), garantia de casos bem sucedidos.
Se o mestre recebe a garantia de pagamento, segue o discípulo até sua aldeia onde familiares os recebem em festa, dando-se então início às cerimônias kutuhuka ngombo (saída do espírito). Caso contrário o interessado procura outro mestre.
Ngombo significa também tanto o cesto usado na adivinhação quanto o espírito do ancestral que preside os atos de adivinhação, que ajuda o adivinho a adivinhar. Vários símbolos são usados neste cesto. Símbolos animais são abundantes: o adivinho escolhe certas espécies animais e relaciona seus comportamentos com os problemas concretos trazidos pelos clientes, são diversas peças.
O número de peças que constituem o ngombo varia: mwana (novo, criança) ou china (adulto). Varia também de região para região, ou ainda segundo o gosto do adivinhador. Na sessão o cesto é “sacudido” e os elementos que aparecem por cima são interpretados. O cesto é sacudido várias vezes de acordo com o dialogo entre o adivinho e o cliente.
Partes de animais usadas nos cestos divinatórios
Pequeno chifre de antílope – o movimento balanceado com relação a pontos brancos e vermelhos pintados no cesto, respondem sim/não (bem/mal) a questões formuladas na sessão.
Pata dianteira de macaco – sua aparição é um bom presságio, o problema vai se resolver.
Pangolim – (um animal parecido com um tatu) – usado para males femininos.
Pata de tamanduá – símbolo do passado, tudo o que está perdido no tempo.
Espinho de porco-espinho – sua aparição na borda do cesto significa algo muito negativo.
“O espírito do caçador” – caçar é uma atividade muito valorizada e particularmente perigosa, por isso todas as suas interdições rituais. Aqui é usado o dente de um animal abatido em caçada, envolto em tecido vermelho. A aparição deste dente na borda do cesto significa exigências do espírito ancestral quanto ao exercício da caça.
Garra ou unha da águia-real (a maior águia africana) indica que o problema é causado por feitiçaria.
Pata de um animal chamado kambango – indica manifestação do mal
Pena vermelha de um pássaro chamado nduwa – problemas relacionados com os mortos.
Carapaça da tartaruga – proteção ao ato divinatório.
Pata de lagarto das chuvas – denuncia amores secretos.
Cabeça de camaleão – doenças causadas por feitiçaria.
Cabeça de serpente – o mal foi causado por uma cobra enviada por um feiticeiro.
Búzio (carapaça de animal marinho) – usado em questões de gravidez/fecundidade.
Também são usados ossos, chifres e garras de vários outros animais. Todos esses elementos são colocados no cesto divinatórios (um pequeno cesto de palha – quase como um chapéu de palha, com o fundo decorado com pele de gato selvagem ou outros animais, às vezes com casco de tartaruga ou com cabaça). Na sessão, este cesto é “sacudido” e os elementos que aparecem por cima são interpretados. O cesto é sacudido várias vezes de acordo com o diálogo entre o adivinho e o cliente.